Aos olhos de muitos, a República Dominicana virou quase um sinônimo de Punta Cana — e, consequentemente, de resorts, cassinos, piscinas ruidosas. E também de praias sensacionais, é claro. Ocorre que o segundo maior país do Caribe (depois de Cuba) tem outras facetas a oferecer.
Uma delas é nada menos que o primeiro assentamento europeu nas Américas. Capital e maior cidade da República Dominicana, Santo Domingo foi fundada por Cristóvão Colombo, que desembarcou ali em 1492, e depois atacada por piratas ao longo do século 16.
Por conta da relevância histórica, o seu principal chamariz é sem dúvida a zona colonial, declarada Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, onde várias atrações carregam o título de “primeira da América”. Por ali, casarões históricos estão sendo ocupados por hotéis boutique cheios de charme.
Mas o encanto de andar pelas ruas de Santo Domingo também está em assistir a partidas de dominó na praça, ouvir o merengue e a bachata e comprar uma Presidente, a cerveja local, “vestida de noiva”, expressão que os locais usam para quando a garrafa está esbranquiçada de tão gelada. Em suma, de ter contato com o lado mais autêntico da República Dominicana.
Tratando-se de uma cidade grande, chama atenção ainda a cena gastronômica, crescente e cada dia mais interessante. Ainda não te convenci? Pois então saiba que você não precisa abrir mão dos mergulhos no mar: a cerca de 30 minutos de Santo Domingo há uma praia de sonho. Confira a seguir:
O QUE FAZER EM SANTO DOMINGO
Zona Colonial de Santo Domingo
Berço de Santo Domingo, a Zona Colonial me lembrou em alguns momentos o centro histórico de Cartagena, ainda que seja mais antiga e menos colorida. Já para o cineasta Francis Ford Coppola, a semelhança é com Havana: o diretor usou o lugar nas filmagens de O Poderoso Chefão 2 (1974) para dar vida à Cuba dos anos 1950.
Fato é que a Zona Colonial dominicana está ainda mais bonita desde que teve início em 2023 um projeto de revitalização, que está refazendo ruas e calçadas, melhorando a iluminação e implementando fiação subterrânea. Muitos casarões antigos também estão sendo repaginados pelas mãos da iniciativa privada, com a instalação de restaurantes, cafés e hotéis boutique.
Um dos endereços que já passou pela revitalização foi a Calle Las Damas, considerada a primeira rua pavimentada das Américas. Por esse motivo, ali estão alguns dos edifícios mais antigos de todo o país, datados do início do século 16. A começar pela residência do governador Nicolás de Ovando, hoje convertida no hotel Hodelpa Nicolás de Ovando, onde me hospedei.
O casarão ficava a poucos passos da sede administrativa das colônias espanholas nas Américas, que foi transformada no Museo de Las Casas Reales (DOP$ 100*), com uma exposição de artefatos que contam a história de Santo Domingo.
Enquanto caminha em direção à ponta oposta da Calle Las Damas, repare nas fachadas da Casa dos Jesuítas e da Última Residência de Cristóvão Colombo nas Américas e dê uma olhadinha na loja de charutos Cabinet e na de chocolates Kahkow Experience — a República Dominicana é famosa pelos dois produtos.
No final da rua, está a Fortaleza Ozama, erguida em 1502 para defender o assentamento espanhol e considerada a mais antiga estrutura militar ainda de pé nas Américas.
Deixando a Calle Las Damas para trás, a menos de cinco minutos de caminhada chega-se à ampla praça Parque Colón, muito frequentada por locais, que se espalham por bancos sob a sombra das árvores. O lugar é o ponto de partida da Calle El Conde, rua de comércio fechada para carros que enfileira restaurantes com mesas na calçada.
Vale voltar ali mais tarde, ao anoitecer. Agora, foque na Catedral de Santo Domingo que — adivinhe? — é a mais antiga das Américas. A entrada, por DOP$ 100*, dá direito a um audioguia.
À Casa del Cordon, cuja fachada pode ser vista na Calle Isabel La Católica, cabe o título de residência privada mais antiga das Américas. E à Pat’e Palo, o de taverna mais antiga.
O estabelecimento, ainda em funcionamento, foi aberto por um pirata holandês em 1505 e era frequentado por outros bucaneiros. Hoje, o gosto duvidoso são os garçons vestidos de piratas, mas o restaurante ganha pontos pela localização, com mesas bem em frente à ampla Plaza de España.
Na Plaza de España, é possível ver parte dos muros que protegiam a Zona Colonial dos piratas e também o Alcázar de Colón (DOP$ 100*), palácio onde morou Diogo Colombo, filho do navegador Cristóvão Colombo. A visita permite ver mobília, objetos de decoração e armas do século 16.
Se tiver que escolher uma única atração para entrar, que seja o ótimo Museo De Las Atarazanas Reales (DOP$ 400*), logo ao lado. O museu está instalado no que já foi um estaleiro (atarazana, em espanhol), onde eram feitos reparos nos navios, e se dedica aos naufrágios históricos que aconteceram na República Dominicana.
O acervo é composto por todo tipo de objetos que foram encontrados nessas embarcações naufragadas, de instrumentos de navegação antigos como astrolábio a tesouros como moedas de ouro e joias preciosas, passando ainda por louças, ânforas e outros objetos do dia a dia a bordo. É imperdível.
Outras atrações em Santo Domingo
Fora da Zona Colonial, Santo Domingo ganha contornos de metrópole, com prédios e trânsito intenso. Por isso, é difícil imaginar que no meio desse cenário existam cenotes. Atração número um para além do centro histórico, o Tres Ojos (DOP$ 200) é um conjunto de três lagos escondidos dentro de cavernas.
O complexo fica ao lado do Parque del Este, área verde onde está o Faro a Colón. O monumento de concreto em formato de cruz, um tanto feioso, supostamente guarda os restos mortais de Cristóvão Colombo — história ferozmente defendida pelos guias locais, mas questionada pela Espanha, que diz que o corpo do navegador está na Catedral de Sevilha.
Para compras, o Blue Mall concentra marcas de luxo. Agora, se o que você procura é mar, vá ao Malecón: o calçadão é largo, ótimo para caminhadas, e tem uma ótima vista para o pôr do sol. Só não dá para mergulhar: há muitas pedras e o mar turvo é pouco convidativo.
Para pegar praia, a dica é seguir para Boca Chica, a cerca de 40 minutos de carro da Zona Colonial. As águas são calmas e cristalinas, daquele azul de arder os olhos.
*R$ 1 = DOP$ 10; consulte a cotação do dia
ONDE FICAR EM SANTO DOMINGO
Convém se hospedar na Zona Colonial, que vem ganhando bons hotéis boutique. O Hodelpa Nicolás de Ovando (nota 8,5/10 no Booking) foi construído em 1502 para ser a casa de um dos primeiros governadores de Santo Domingo, Nicolás de Ovando. Além da excelente localização na Calle Las Damas, a propriedade possui bonitos pátios internos, cercados por arcos e com fontes de água ao centro.
As Casas del XVI (nota 8,8/10) são um conjunto de seis casarões do século 16 restaurados com esmero, preservando algumas das características originais e incorporando elementos modernos. Cada uma das casas possui uma decoração única, sendo que é possível reservar o espaço inteiro ou apenas um dos quartos. Destaque para a Casa del Diseñador, onde já se hospedou o estilista dominicano Oscar de La Renta.
Inaugurado em 2024, o Kimpton Las Mercedes (nota 9,5/10) é fruto da restauração de um casarão do século 16, que ganhou um moderno anexo aos fundos para receber os quartos. Entre eles, estão oito suítes com varandas privativas munidas de jacuzzi. Um dos espaços mais especiais é a sala de charutos, onde uma parte do chão permite ver, através de um vidro, um poço d’água de 500 anos de idade que foi descoberto durante as obras.
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ONDE COMER EM SANTO DOMINGO
Os restaurantes mais interessantes de Santo Domingo estão fora da Zona Colonial. Perto do aeroporto (e, por isso, uma opção de parada antes ou depois do voo), o Morisoñando foi por muito tempo capitaneado pela renomada chef dominicana Tita, eleita uma das melhores do mundo pelo The Best Chef Awards em 2024. A cozinheira deixou o restaurante no final do mesmo ano, mas a casa segue servindo suas criações, que almejam resgatar a culinária tradicional do país. Vale começar pedindo um morir soñando, bebida típica que mistura leite e suco de laranja e dá nome ao restaurante, e a porção de croquetas de sancocho, tradicional ensopado caribenho.
Ítalo-venezuelano radicado na República Dominicana, Saverio Stassi é a mente por trás do Ajualä, no centro novo de Santo Domingo. A cozinha utiliza ingredientes locais para criar pratos impecáveis, que misturam referências de diversas culinárias. Chamou atenção o peixe com cogumelos, purê de mandioca e molho feito com as folhas da pimenta-malagueta, além da carne de cabra, muito consumida pelos dominicanos, acompanhada de purê de milho. Entre as sobremesas, o sorvete de baunilha com mousse de banana leva crumble de chocolate branco e mel produzido no próprio restaurante.
Dentro da Zona Colonial, uma ótima pedida é o Zola, restaurante instalado dentro do novo hotel Kimpton Las Mercedes. O local serve em um pátio interno ao ar livre pratos tradicionais italianos, como carbonara, almôndegas, ravióli e tiramisù. Outra opção é o Maraca, que à noite ganha ares de balada com drinques fotogênicos e iluminação baixa.
COMO CIRCULAR
Na Zona Colonial é possível fazer tudo a pé, mas para conhecer outros bairros de Santo Domingo, convém chamar um Uber, que funciona bem por ali. O transporte público nem sempre é bem conectado aos pontos de interesse.
COMO CHEGAR E ROTEIRO
Operados pela Arajet e pela Gol, os únicos voos diretos entre o Brasil e a República Dominicana ligam São Paulo a Punta Cana. Os voos diretos da Arajet de Santo Domingo para São Paulo foram suspensos em outubro de 2024, para dar lugar à rota de Punta Cana.
A Arajet é uma companhia dominicana ultra low cost, com todos os extras (de água a bagagem de mão) cobrados à parte. Contei como é a experiência de voar com a aérea nesta outra matéria.
De Punta Cana para Santo Domingo são cerca de 200 km, que podem ser percorridos em 2h30 de carro sem paradas. Outra opção é pegar um avião: a própria Arajet tem voos conectando os destinos em 1h55.
Mas vale encaixar Santo Domingo em um roteiro maior pela República Dominicana. Partindo de Punta Cana, a primeira parada pode ser em Bayahíbe, a 70 km, que possui praias impecáveis e boa oferta de resorts. Além disso, esse é um dos melhores pontos de partida para fazer o passeio de barco até a paradisíaca Isla Saona.
De lá, vale seguir 25 km até La Romana para conhecer a imperdível Altos de Chavón, uma vila construída em estilo mediterrâneo. Serão só mais 120 km até Santo Domingo.
Uma sugestão é reservar de três a quatro dias para conhecer Bayahíbe e La Romana (escolha uma das duas como base) e fazer o passeio de barco para Isla Saona, e mais dois a três dias para explorar Santo Domingo.
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QUANDO IR
A alta temporada na República Dominicana é entre dezembro e abril, período com tempo firme. Os meses do meio do ano são considerados de baixa temporada porque as chuvas são mais frequentes – o que não chega a atrapalhar tanto os passeios em Santo Domingo quanto em Punta Cana, onde as atividades em geral estão mais relacionadas à praia.
Porém, é preciso estar atento à temporada de furacões, que vai de 1º de junho a 30 de outubro (com mais chances entre setembro e outubro). Não é tão comum que o país fique na rota exata de um furacão, mas mesmo quando um passa longe, ele pode trazer consigo tempestades tropicais intensas.
DOCUMENTOS
Brasileiros não precisam de visto para visitar a República Dominicana, mas é necessário apresentar o Certificado Internacional de Vacina Contra a Febre Amarela.
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